segunda-feira, 30 de março de 2009

Publicado na 17ªEdição.

Aquecimento Global, Efeitos Culturais

Muito se tem falado no aquecimento global, o que é justo, devido à grande tragédia que tal fenômeno representa. Entretanto, neste andejar cotidiano, ora urbano, ora rural, me parei a pensar em conseqüências que muita gente não percebe, mas que são, a meu ver, tão lamentáveis quanto os desastres físicos causados pelo tal efeito estufa. Para me fazer entender, me valho de trechos da magistral obra “História da República Rio-Grandense”, escrita por Assis Brasil em 1934, quando o próprio não contava nem com 24 anos de idade completos.

“Ninguém pode hoje desconhecer a efficaz influència que sobre um povo exerce o conjuncto de circumstancias physicas que o rodeião, o meio cósmico. E, si esse facto não assumisse já o caracter de lei acceita e proclamada, sería ainda assim de grande proveito o exemplo do Rio Grande, onde os habitos e as tendências dos habitantes desde logo sensivelmente se adaptárão à natureza especifica do meio.”

O frio atual não é o mesmo de antigamente. Há 30, 40 anos, tinha-se 3 meses de FRIO muito intenso e geada quase todos os dias. Nos tempos de hoje, o que vemos são invernos cada vez mais amenos. No do ano passado por exemplo, só pude usar meu poncho em duas ou três ocasiões, o que, admito, deixou-me bastante aborrecido. O frio inclusive, não só deu diretrizes para usos e costumes destas terras subtropicais, como moldou aspectos de temperamento da população, contando com o auxílio dos fortes ventos que assobiam com gana e fazem doer os ouvidos. O inverno pode ser pouco cômodo muitas vezes, entretanto isto não impede que nos traga diversos prazeres, como o pinhão, apenas para citar um. Mas o que temo é que ponchos virem peças de museu, lenha vire elemento de fábulas, e assim por diante. De início, imaginava eu que transformações climáticas suficientes para acarretar a perda de elementos culturais sulinos levaria centenas, quem sabe milhares de anos para acontecer. Porém, facilmente observamos alterações não só de temperatura, como também de ciclos de plantas, visivelmente desregulados.
A cultura sulina é repleta de singularidades provocadas pelo frio que nos visita anualmente, é verdade, mas muito mais pela variação climática que nos atinge.

“Destas circumstancias deriva o facto de serem no Rio Grande as estações do anno nitidamente definidas e caracterisadas. O hinverno é frigidíssimo, os logares mais expostos teem chegado a congelar, resistindo a massa de gêlo a acção do sol tres dias e mais sem dissolver-se; no verão reina por vezes calor insupportavel, egual ao mais intenso dos trópicos; o outono e a primavera exhibem uma temperatura paradisíaca.”

Será que estamos para sempre condenados a aturar dias de manga curta em pleno julho? Será que nossa saúde para sempre ficará exposta a riscos de variação de mais de 20°C em menos de 24 horas? Aprazível é observar a movimentação da natureza, as mudanças nas plantas, nos animais e em nós mesmos. Em um clima subtropical como o nosso, somos agraciados com a oportunidade de sentir a natureza plenamente viva, em constante renovação. Mas, talvez estejamos fadados a não mais ver este espetáculo, pelo menos em toda sua plenitude como antigamente.



Eric Silveira Batista Barreto

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